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sábado, 4 de junho de 2016

INFLUÊNCIA

LITERATURA DE CORDEL INFLUÊNCIA ASPECTOS CONSTITUTIVOS DO NORDESTE

 
O Nordeste é o melhor lugar para se contar as histórias. Na região, encontramos as lavadeiras do rio que levam as bacias de roupa na cabeça, a rezadeira da novena de Santo Antônio, as famílias clamando ao céu uma nuvem carregada de chuva, o repentista com viola na mão, o sertanejo e as rodas para dançar baião. O cordel reúne esses causos rimados em versos e impressos num folheto preto e branco.

A literatura de cordel chegou no Brasil na época dos portugueses. Por muito tempo, no século XIX, foi considerada como “literatura menor”. Mas essa linguagem se espalhou e encontrou seus maiores poetas no Nordeste, como Patativa do Assaré (CE), Manoel Monteiro (PB), Bule Bule (BA), Mestre Azulão (PB), Cego Aderaldo (CE), entre outros.

O pesquisador brasileiro de cordel, Marco Haurélio, explica que a inclusão de histórias do universo nordestino foi o que caracterizou a literatura como dessa região. “O fato mais importante para a definição de uma poética popular nordestina (e, consequentemente, brasileira) é a inclusão da gesta do gado e da gesta cangaceira entre os temas principais”, ressalta.

Na Bahia, um dos nomes mais expressivos do cordel é Antônio Ribeiro da Conceição, ou simplesmente Bule Bule. Poeta há 46 anos, ele diz que os folhetos de cordel mais duradouros são aqueles que falam de assuntos e figuras que o nordestino se identifica. “Para o homem do sertão, interessa Lampião, o vaqueiro, padre Cícero, frei Damião, Irmã Dulce, coisas que ele sabe da existência e do valor

Sou poeta das brenha, não faço o papé
De argum menestrê, ou errante cantô
Que veve vagando, com sua viola
Cantando, pachola, à percura de amô
Não tenho sabença, pois nunca estudei
Apenas eu seio o meu nome assiná
Meu pai, coitadinho! Vivia sem cobre
E o fio de pobre não pode estudá
Meu verso rastero, singelo e sem graça
Não entra na praça, no rico salão
Meu verso só entra no campo e na roça
Nas pobre paioça, da serra ao sertão


Poeta da roça, de Patativa do Assaré, maior poeta popular do Ceará

Além dos enredos sobre o contexto do campo, como contado no trecho dessa obra de Patativa do Assaré, alguns cordelistas apostam em assuntos mais complexos e atuais. Marxismo e capitalismo, a filosofia do Mito da Caverna, Nelson Mandela e a luta pelo apartheid, biografias de figuras ilustres da história e até as manifestações de junho no Brasil foram tema para os versos de Medeiros Braga, cordelista da Paraíba.

Porém, a grande surpresa
Surgia mais varonil
Jovens foram para as ruas
Em um ambiente hostil
Levantando, alvissareiro,
O seu grito de guerreiro
Para mudar o Brasil
[...]
Havia na multidão,
Que ao poder assombrou,
Um cartaz que afirmava
Que “O Gigante Acordou!”
Dizia um outro, sem truque:
“Saímos do Facebook!”…
E a marcha confirmou.


 As manifestações de junho – vinte centavos que mudaram o Brasil, de Medeiros Braga (PB)
Com um stand durante um evento na Universidade Federal da Paraíba, o poeta mostrou que o cordel pode tratar de temas contemporâneos e ficar atento aos fatos históricos e às mudanças sociais. “O mundo está destroçado e não há outra força de consertá-lo, senão através da educação política do povo”, diz o poeta paraibano, para justificar a escolha de temas atuais nos cordéis.

O cordel foi fundamental para a formação de um público leitor numa época em que a educação formal não chegava aos grotões”, afirma o pesquisador de cordel Marco Haurélio
Para Medeiros, a diversidade temática acompanha as mudanças sociais. “A onça no pé da serra deu lugar à universidade que bem pertinho chegou; o matuto lá em cima foi substituído, por um homem novo, mais desengonçado, mais falante, mais conhecedor das coisas. Em cima da serra hoje se encontra o jovem que à tardinha pega o transporte escolar e vai assistir aula nos mais diversos graus de ensino. Por conta disso mudou também o cordelista”.

Além dos cordelistas e poetas populares da terra, outros nomes conhecidos da literatura no Brasil foram influenciados por esse estilo: José Lins do Rego, Dias Gomes, Guimarães Rosa, João Cabral de Melo Neto, Rachel de Queirós, Ferreira Gullar, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Cecília Meireles e Ariano Suassuna.

Para o pesquisador Marco Haurélio, o cordel contribui não só para marcar uma literatura regional, mas provocou efeitos culturais, sociais e políticos. “O cordel, principalmente em seus primeiros anos, foi de fundamental importância para a formação de um público leitor numa época em que a educação formal não chegava aos grotões”, diz.

Matemática do cordel - Aquela ideia de poesia como pura construção de versos rimados não cabe ao cordel. Há muita matemática: tem a quadra (estrofe de quatro versos), sextilha (seis versos), septilha (sete versos), martelo (estrofes formadas por decassílabos), quadrão (os três primeiros versos rimam entre si, o quarto com o oitavo e o quinto, o sexto e o sétimo também entre si), entre outros.

“A estrofe básica do cordel é a sextilha setissilábica. Depois vem a septilha e, em escala bem menor, as décimas de sete e dez sílabas”, explica Haurélio. Ele acredita que os bons poetas conseguem se expressar em todos os estilos, mas alguns acabam não dando fluência e terminam a linha com uma preposição ou artigo.

Para Bule Bule, a estética do cordel é baseada muito em quem faz. “A tradição é o tamanho de 12×16 (formato do folheto). Outra coisa básica é que o cordel de 8 páginas, sendo de sextilha, pode chegar até 40 estrofes; sendo de septilhas, normalmente 32 estrofes; sendo de dez versos, você faz 24 estrofes por 8 páginas. E você vai multiplicando o múltiplo de 4. A partir de 32 é romance”, finaliza.


 

PROJETOS

II Encontro com Poetas Populares e Rodas de Cantoria 

O Objetivo deste II Encontro com Poetas populares e Rodas de Cantoria foi homenagear os muitos veteranos poetas, diretamente influenciados pela geração de Leandro Gomes de Barros, e que dedicaram parte de suas vidas ao oficio de ser cordelista. Então, todos os grandes vates da ABLC estiveram presentes:  

Gonçalo Ferreira da Silva, Poeta de cordel, contista e ensaísta nascido em 1937 em IPU(CE), tem como suas principais temáticas ciência e política. Em congressos e festivais é comum vê-lo contando histórias em versos rimados e de improviso, premiado pelo Prêmio Patativa do Assaré do Ministério da Cultura; Mestre Azulão, Poeta de cordel e cantador, nascido em 1932 em Sapê (PB). Um dos fundadores da Feira de São Cristóvão. Já representou o Brasil com sua viola em vários países da Europa e América do Norte, premiado pelo Prêmio Patativa do Assaré do Ministério da Cultura; Antonio de Araújo Campinense, Poeta de cordel e repentista, natural de, Lagoa Seca (PB), em 1935. É constantemente visto homenageando pessoas de improviso, capacidade observada nas participações em cursos, festivais, escolas e universidades, premiado pelo Prêmio Patativa do Assaré do Ministério da Cultura; João Batista, Poeta de cordel, natural de Itabaianinha (SE) em 1938. Ministra cursos, palestras e
Oficinas. Abordam as origens e antecedentes da literatura de cordel, principais técnicas de composição nas salas de aulas e nos meios acadêmicos; Sepalo Campelo, Poeta e escritor, nascido em Campo Redondo (RN) em 1944, é membro fundador da ABLC, recebendo prêmios em vários concursos literários; e, o esperado Manoel Monteiro, Poeta de cordel e cantador, natural de Bezerros (PE), radicado em Campina Grande (PB). Um dos maiores poetas da atualidade, hoje com 80 anos. Em sua primeira participação em evento na cidade, Mestre Manoel Monteiro receberá o Prêmio Cordel de Literatura, como cordelista do ano de 2010, em uma sessão plenária na sede da ABLC, em Santa Teresa.



Pela segunda vez, o projeto "Encontro com Poetas Populares e Rodas de Cantoria", é patrocinado pelo Governo do Estado, através de sua Secretaria de Cultura. Muito nos envaidece, também, a parceria com o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP), símbolo maior de pesquisa e referência na área, realizando parte do projeto em seu espaço físico.
Desejamos com os Encontros e com as Rodas destacar que a literatura de cordel permanece viva e atuante – para além de um gênero literário e fincando sólidos registros na 
cultura contemporânea. Uma literatura que com o passar do tempo, assume uma nova função e desenvolve-se como parte integrante da cultura popular contemporânea e não aprisionada em um espaço tempo. Queremos demonstrar, também, a troca de experiências e informações com os costumes e culturas de outras regiões, levando a pluralidade de nossa produção artística, além de todo o valor histórico dessa expressão. Esperamos mantê-la em constante debate, divulgando e disseminando o que é produzido, debatido e conversado. Estimulando, é claro, novas pesquisas e a formação de novos autores.
Pela experiência vivida no ano de 2009, observamos que os Encontros e as Rodas contribuíram para o debate sobre a literatura e cultura popular produzidas no Brasil. A literatura de cordel elaborou-se e renovou seus autores, mostrando-se em busca do olhar não pelo antropológico ou literário, mas pela percepção da produção da arte e da cultura contemporânea, na qual o campo de passagem apresenta de forma mais generosa a apreensão da realidade. Buscaremos aqui um pensamento multifocal reconhecendo o caráter dinâmico do processo em constante mutação e integrado à contemporaneidade.

Programação
Dia 17 MAR

14:30h – Oficina: O Cordel, suas manhas e mumunhas – com Separo Campelo;

16:00h – Encontro: Literatura de cordel: o tempo é hoje.
Como a literatura de cordel evoluiu e permanece viva com gênero literário e fragmento da cultura popular, transitando entre o simbólico e a resignificação dos códigos.
Gonçalo Ferreira da Silva, Manoel Monteiro e Maria Rosário Pinto.

18:30h – Roda de Cantoria – com Mestre Azulão

Dia 18 MAR

14:30h – Oficina: A literatura de Cordel, evolução e firmamento – com Mestre Campinense

16:00h – Encontro: Literatura de Cordel, Desafio e Pelejas: o cordel na contemporaneidade
Como a Literatura de cordel se apropriou das novas formas de comunicação e fez material para a divulgação de seu conteúdo e instrumento para o processo identitário nacional.
Com Dalinha Catunda, João Batista Mello e Ivamberto Albuquerque

18:30 – Roda de Cantoria com Sergival e Chico Salles

DIA 19/03/2011

16hs – Sessão Plenária na Sede da ABLC
Homenagem ao Poeta Manoel Monteiro, eleito o "cordelista do ano de 2010" com o Prêmio "Cordel de Literatura"

Realização: Academia Brasileira de Literatura de Cordel

Patrocínio: Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro

Apoio:
Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular/ IPHAN MinC

Produção Executiva: Fernando Assumpção
Blog

ORIGEM DE CORDEL

LITERATURA DE CORDEL
Estátua de Firmino Teixeira do Amaral na Central
de Artesanato Mestre Dezinho, em Teresina.

Literatura de cordel também conhecida no Brasil como folheto, é um gênero literário popular escrito frequentemente na forma rimada, originado em relatos orais e depois impresso em folhetos. Remonta ao século XVI, quando o Renascimento popularizou a impressão de relatos orais, e mantém-se uma forma literária popular no Brasil. O nome tem origem na forma como tradicionalmente os folhetos eram expostos para venda, pendurados em cordas, cordéis ou barbantes em Portugal. No Nordeste do Brasil o nome foi herdado, mas a tradição do barbante não se perpetuou: o folheto brasileiro pode ou não estar exposto em barbantes. Alguns poemas são ilustrados com xilogravuras, também usadas nas capas. As estrofes mais comuns são as de dez, oito ou seis versos. Os autores, ou cordelistas, recitam esses versos de forma melodiosa e cadenciada, acompanhados de viola, como também fazem leituras ou declamações muito empolgadas e animadas para conquistar os possíveis compradores. Para reunir os expoentes deste gênero literário típico do Brasil, foi fundada em 1988 a Academia Brasileira de Literatura de Cordel, com sede no Rio de Janeiro.

Os folhetos à venda, pendurados em cordéis
História

A história da literatura de cordel começa com o romanceiro do Renascimento, quando se iniciou impressão de relatos tradicionalmente orais feitos pelos trovadores medievais, e desenvolve-se até à Idade Contemporânea. O nome cordel está ligado à forma de comercialização desses folhetos em Portugal, onde eram pendurados em cordões, chamados de cordéis. Inicialmente, eles também continham peças de teatro, como as de autoria de Gil Vicente (1465-1536). Foram os portugueses que introduziram o cordel no Brasil desde o início da colonização.

Evolução no Brasil
Na segunda metade do século XIX começaram as impressões de folhetos brasileiros, com suas características próprias. Os temas incluem fatos do cotidiano, episódios históricos, lendas, temas religiosos, entre muitos outros. As façanhas do cangaceiro Lampião (Virgulino Ferreira da Silva, 1900-1938) e o suicídio do presidente Getúlio Vargas (1883-1954) são alguns dos assuntos de cordéis que tiveram maior tiragem no passado. Não há limite para a criação de temas dos folhetos. Praticamente todo e qualquer assunto pode virar cordel nas mãos de um poeta competente.

No Brasil, a literatura de cordel é produção típica do Nordeste, sobretudo nos estados de Pernambuco, da Paraíba, do Rio Grande do Norte e do Ceará. Costumava ser vendida em mercados e feiras pelos próprios autores. Hoje também se faz presente em outros Estados, como Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. O cordel hoje é vendido em feiras culturais, casas de cultura, livrarias e nas apresentações dos cordelistas.

O grande mestre de Pombal, Leandro Gomes de Barros, que nos emprestou régua e compasso para a produção da literatura de cordel, foi de extrema sinceridade quando afirmou na peleja de Riachão com o Diabo, escrita e editada em 1899:

"Esta peleja que fiz
não foi por mim inventada
, um velho daquela época
a tem ainda gravada
minhas aqui são as rimas
exceto elas, mais nada''".

Oriunda de Portugal, a literatura de cordel chegou no balaio e no coração dos nossos colonizadores, instalando-se na Bahia e mais precisamente em Salvador. Dali se irradiou para os demais estados do Nordeste. A pergunta que mais inquieta e intriga os nossos pesquisadores é "Por que exatamente no Nordeste?". A resposta não está distante do raciocínio livre nem dos domínios da razão. A primeira capital da nação foi Salvador, ponto de convergência natural de todas as culturas, permanecendo assim até 1763, quando foi transferida para o Rio de Janeiro.

Na indagação dos pesquisadores, no entanto há lógica, porque os poetas de bancada ou de gabinete, como ficaram conhecidos os autores da literatura de cordel, demoraram a emergir do seio bom da terra natal. Mais tarde, por volta de 1750 é que apareceram os primeiros vates da literatura de cordel oral. Engatinhando e sem nome, depois de relativo longo período, a literatura de cordel recebeu o batismo de poesia popular.

Foram esses bardos do improviso os precursores da literatura de cordel escrita. Os registros são muito vagos, sem consistência confiável, de repentistas ou violeiros antes de Manoel Riachão ou Mergulhão, mas Leandro Gomes de Barros, nascido no dia 19 de novembro de 1865, teria escrito a peleja de Manoel Riachão com o Diabo, em fins do século passado.

Sua afirmação, na última estrofe desta peleja (ver em detalhe) é um rico documento, pois evidencia a não contemporaneidade do Riachão com o rei dos autores da literatura de cordel. Ele nos dá um amplo sentido de longa distância ao afirmar: "Um velho daquela época a tem ainda gravada".
Os poetas Leandro Gomes de Barros (1865-1918) e João Martins de Athayde (1880-1959) estão entre os principais autores do passado. 

Carlos Drummond de Andrade, reconhecido como um dos maiores poetas brasileiros do século XX, assim definiu, certa feita, a literatura de cordel: "A poesia de cordel é uma das manifestações mais puras do espírito inventivo, do senso de humor e da capacidade crítica do povo brasileiro, em suas camadas

Modestas do interior. O poeta cordelista exprime com felicidade aquilo que seus companheiros de vida e de classe econômica sentem realmente. A espontaneidade e graça dessas criações fazem com que o leitor urbano, mais sofisticado, lhes dedique interesse, despertando ainda a pesquisa e análise de eruditos
Universitários. É esta, pois, uma poesia de confraternização social que alcança uma grande área de sensibilidade".
A literatura de cordel apresenta vários aspectos interessantes e dignos de destaque:
  • As suas gravuras, chamadas xilogravuras, representam um importante espólio do imaginário popular;
  • Pelo fato de funcionar como divulgadora da arte do cotidiano, das tradições populares e dos autores locais (lembre-se a vitalidade deste gênero ainda no nordeste do Brasil), a literatura de cordel é de inestimável importância na manutenção das identidades locais e das tradições literárias regionais, contribuindo para a perpetuação do folclore brasileiro;
  • Pelo fato de poderem ser lidas em sessões públicas e de atingirem um número elevado de exemplares distribuídos, ajudam na disseminação de hábitos de leitura e lutam contra o analfabetismo;
  • A tipologia de assuntos que cobrem, crítica social e política e textos de opinião, elevam a literatura de cordel ao estandarte de obras de teor didático e educativo.

Narrativa
Os textos considerados romances na literatura de cordel possuem alguns traços em comum quanto à sua narrativa. Os recursos narrativos mais utilizados nesses cordéis são as descrições dos personagens em cena e os monólogos com queixas, súplicas, rogos e preces por parte do protagonista.

São histórias que têm como ponto central uma problemática a ser resolvida através de inteligência e astúcia para atingir um objetivo. No romance romântico, a problemática envolve elementos relacionados ao imaginário europeu – duques, condes, castelos –, apropriados e adaptados pela literatura oral brasileira. 

O herói sofrerá, vivendo em desgraça e martírio, sempre fiel ao seu amor ou às suas convicções, mesmo com as intempéries. É comum a intriga envolver jovens que enfrentam problemas na escolha de seus companheiros, em relações familiares extremamente hierarquizadas. Objeção, proibição do namoro, noivados arranjados são algumas das dificuldades que impedem o jovem casal apaixonado de ficar junto ao longo do romance. 

Ao fim de tudo, o herói será exaltado e os opositores humilhados. Se assim não for, haverá outro meio de equilibrar a situação, que durante quase toda a narrativa permaneceu desfavorável ao protagonista. 

Poética
Trabalho de alunos, praça em Cerqueira César Quadra

Estrofe de quatro versos. A quadra iniciou o cordel, mas hoje não é mais utilizada pelos cordelistas. Porém as estrofes de quatro versos ainda são muito utilizadas em outros estilos de poesia sertaneja, como a matuta, a caipira, a embolada, entre outros.

A quadra é mais usada com sete sílabas. Obrigatoriamente tem que haver rima em dois versos (linhas). Cada poeta tem seu estilo. Um usa rimar a segunda com a quarta. Exemplo:


Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá (2)
As aves que aqui gorjeiam

Não gorjeiam como lá (4).

Outro prefere rimar todas as linhas, alternando ou saltando. Pode ser a primeira com a terceira e a segunda com a quarta, ou a primeira com a quarta e a segunda com a terceira. Vejamos estes exemplos de Zé da Luz:


E nesta constante lida
Na luta de vida e morte
O sertão é a própria vida
Do sertanejo do Norte
Três muié, três irimã,
Três cachorra da mulesta
Eu vi nun dia de festa
No lugar Puxinanã.

Sextilha

É a mais conhecida. Estrofe ou estância de seis versos. Estrofe de seis versos de sete sílabas, com o segundo, o quarto e o sexto rimados; verso de seis pés, colcheia, repente. Estilo muito usado nas cantorias, onde os cantadores fazem alusão a qualquer tema ou evento e usando o ritmo de baião. Exemplo:

Quem inventou esse "S"
Com que se escreve saudade
Foi o mesmo que inventou
O "F" da falsidade
E o mesmo que fez o "I"
Da minha infelicidade

Septilha

Estrofe (rara) de sete versos; setena (de sete em sete). Estilo muito usado por Zé Limeira, o Poeta do Absurdo.

Eu me chamo Zé Limeira
Da Paraíba falada
Cantando nas escrituras
Saudando o pai da coaiada
A lua branca alumia
Jesus, Jose e Maria
Três anjos na farinhada.
Napoleão era um
Bom capitão de navio
Sofria de tosse braba
No tempo que era sadio,
Foi poeta e demagogo
Numa coivara de fogo
Morreu tremendo de frio.

Na septilha usa-se o estilo de rimar os segundo, quarto e sétimo versos e o quinto com o sexto, podendo deixar livres o primeiro e o terceiro.

Oitava

Estrofe ou estância (grupo de versos que apresentam, comumente, sentido completo) de oito versos: oito-pés-em-quadrão. Oitavas-a-quadrão. Como o nome já sugere, a oitava é composta de oito versos (duas quadras), com sete sílabas. A rima na oitava difere das outras. O poeta usa rimar a primeira com a segunda e terceira, a quarta com a quinta e oitava e a sexta com a sétima.

Quadrão

Oitava na poesia popular, cantada, na qual os três primeiros versos rimam entre si, o quarto com o oitavo, e o quinto, o sexto e o sétimo também entre si.
Todas as estrofes são encerradas com o verso: Nos oito pés a quadrão. Vejamos versos de uma contaria entre José Gonçalves e Zé Limeira: - (AAABBCCB)

Gonçalves:

Eu canto com Zé Limeira
Rei dos vates do Teixeira
Nesta noite prazenteira
Da lua sob o clarão
Sentindo no coração
A alegria deste canto *
Por isso é que eu canto tanto *
NOS OITO PÉS A QUADRÃO

Limeira:

Eu sou Zé Limeira e tanto
Cantando por todo canto
Frei Damião já é santo
Dizendo a santa missão
Espinhaço e gangão
Batata de fim de rama *
Remédio de velho é cama *
NOS OITO PÉS A QUADRÃO.

Décima

Estrofe de dez versos, com dez ou sete sílabas, cujo esquema rimático é, mais comumente, ABBAACCDDC, empregada sobretudo na glosa dos motes, conquanto se use igualmente nas pelejas e, com menos frequência, no corpo dos romances.
Geralmente nas pelejas é dado um mote para que os violeiros se desdobrem sobre o mesmo. Vejamos e exemplo com José Alves Sobrinho e Zé Limeira:
  • Mote:
VOCÊ HOJE ME PAGA O QUE TEM FEITO
COM OS POETAS MAIS FRACOS DO QUE EU.
  • Sobrinho:
Vou lhe avisar agora Zé Limeira <A
Dizem que quem avisa amigo é >B
Vou lhe amarrar agora a mão e o pé >B
E lhe atirar naquela capoeira <A
Pra você não dizer tanta besteira <A
Nesta noite em que Deus nos acolheu >C
Você hoje se esquece que nasceu >C
E se lembra que eu sou bom e perfeito >D
Você hoje me paga o que tem feito >D
Com os poetas mais fracos do que eu. >C
  • Zé Limeira:
Mais de trinta da sua qualistria
Não me faz eu correr nem ter sobrosso
Eu agarro a tacaca no pescoço
E carrego pra minha freguesia
Viva João, viva Zé, viva Maria
Viva a lua que o rato não lambeu
Viva o rato que a lua não roeu
Zé Limeira só canta desse jeito
Você hoje me paga o que tem feito
Com os poetas mais fracos do que eu.

Martelo

Estrofe composta de decassílabos, muito usada nos versos heroicos ou mais satíricos, nos desafios. Os martelos mais empregados são o gabinete e o agalopado.
Martelo agalopado - Estrofe de dez versos decassílabos, de toada violenta, improvisada pelos cantadores sertanejos nos seus desafios.
Martelo de seis pés, galope - Estrofe de seis versos decassilábicos. Também se diz apenas agalopado.

Galope à beira-mar
Estrofe de 10 versos hendecassílabos (que tem 11 sílabas), com o mesmo esquema rímico da décima clássica, e que finda com o verso "cantando galope na beira do mar" ou variações dele. Termina, sempre, com a palavra "mar".
Às vezes, porém, o primeiro, o segundo, o quinto e o sexto versos da estrofe são heptassílabos, e o refrão é "meu galope à beira-mar". É considerado o mais difícil gênero da cantoria nordestina, obrigatoriamente tônicas as segunda, quinta, oitava e décima primeira sílabas.
  
Sobrinho:
Provo que eu sou navegador romântico
Deixando o sertão para ir ao mirífico
Mar que tanto adoro e que é o Pacífico
Entrando depois pelas águas do Atlântico
E nesse passeio de rumo oceânico
Eu quero nos mares viver e sonhar
Bonitas sereias desejo pescar
Trazê-las na mão pra Raimundo Rolim
Pra mim e pra ele, pra ele e pra mim
Cantando galope na beira do mar.
·        
 Limeira:

Eu sou Zé Limeira, caboclo do mato
Capando carneiro no cerco do bode
Não gosto de feme que vai no pagode
O gato fareja no rastro do rato
Carcaça de besta, suvaco de pato
Jumento, raposa, cancão e preá
Sertão, Pernambuco, Sergipe e Pará
Pará, Pernambuco, Sergipe e Sertão
Dom Pedro Segundo de sela e gibão
Cantando galope na beira do mar.

Redondilha
  • Antigamente, quadra de versos de sete sílabas, na qual rimava o primeiro com o quarto e o segundo com o terceiro, seguindo o esquema abba.
  • Hoje, verso de cinco ou de sete sílabas, respectivamente redondilha menor e redondilha maior.
Carretilha
Literatura popular brasileira - Décima de redondilhas menores rimadas na mesma disposição da décima clássica; miudinha, parcela, parcela-de-dez.

Temas para pesquisar
O que é Cordel?
Capas de cordel com aulas sobre movimentos literários no Brasil